Bolsa de Wall Street
O Brasil é tardio em seu desenvolvimento capitalista e seu
crescimento segue motivado em consumismo. Nos anos JK o governo investia em
estradas, o setor privado em montadoras de carro, enquanto ao povo “recebia”
condições para comprar estes produtos. Tal visão se estendeu para outros bens
de consumo que viriam a alterar os hábitos das pessoas e família.
No período atual há também o consumo de imagens. Se antes
era “ser” e depois passou a “ter”, hoje basta apenas “aparentar ter”. A
Sociedade do Espetáculo na qual as relações são intermediadas por meios de
comunicação potencializaram o lado violento e competitivo do capitalismo.
Marcas e produtos são sinônimos de status e com redes
sociais os consumidores podem exibir seus fetiches para sua rede de contatos,
uma versão menor do que fazem as celebridades em programas de televisão e
revistas semanais além de manterem suas atividades na ciberesfera.
Pessoas perdem suas características e se tornam produtos com
valor agregado conforme os objetos e outras pessoas-produtos ao qual estão
aliadas. Alguns conseguem se transformar em marcas. Há artistas mais conhecidos
pela vida pessoal do que pela obra.
O crise econômica de 2008 afetou países fazendo muitos
questionarem a sociedade na qual vivemos. Jovens e até mesmo idosos vivem a
insegurança de não saber se terão condições de saúde e emprego, investimentos
em bem-estar social vem sendo cortados, principalmente nos países Europeus
conhecidos pela infame sigla PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e
Espanha).
Onde o governo manteve como política a atuação dentro da
economia, mesmo que de forma moderada, o estado não viu rombos enormes. Houve
um equilíbrio entre Estado-nação e liberalismo, porém estas medidas são incomodas
aos grandes capitalistas.
A Grécia vê o crescimento da extrema-direita representada
pelo partido Aurora Dourada, na Espanha imagens mostram filas de garotos e
garotas procurando vagas no mercado. Nos EUA a turbulência de cinco anos atrás
desestabilizou o mercado imobiliário. Jovens antes saiam da faculdade para
morar sozinhos, porém na conjunção do momento voltam ao lar dos país ou saem
para outros países. Compraram educação em parcelas altas e quando saem
perceberam estar em uma fábrica de desempregados. A desigualdade social neste
país aumentou, vivem o pesadelo americano.
Há dois anos Londres foi incendiada por protestos. Não se
via cartazes políticos ou líderes discursando. Apenas o saque de lojas e rostos
raivosos acompanhados de pontapés e socos contra o establishment. Para o sociólogo Zygmunt Bauman, eram aqueles
alijados da sociedade de consumo.
Os fenômenos citados acima são reflexos da crise econômica e
junto a ela está a ausência de ideologias. Partidos políticos assumiram uma
agenda pragmática. Unidos com conglomerados internacionais visam o lucro. O
príncipe não tem mais a feição de Cesare Borgia ou Napoleão, mas é composto de
um think-tank e esses grupos guerreiam entre si por cada vez mais poder e
dinheiro.
Com a população imersa em insegurança este sentimento
encontra eco no narcisismo e por vez chega ao consumismo. As compras preenchem
momentaneamente o vazio. As imagens no Facebook com sorrisos escancarados
exibindo uma aquisição ou mesmo o próprio produto em fotos com filtros no instagram
são reflexos deste quadro.
Os hábitos mudaram, a ascensão econômica no Brasil significa
emancipação, educação é um negócio como tantos outros e o diploma também é
visto como uma honraria a conduzir para outro patamar de consumo.
Príncipe sem face
O Príncipe Eletrônico, o think-tank,
composto por setores da economia, academia, política e militar, mantém este
ordenamento. A população está tão dopada em suas compras e pouco questiona os
rumos da sociedade. Dias especiais lhe dizem quando comprar e a propaganda
aponta o que comprar.
Em meio a isto surgem movimentos contrários. Occupy Wall
Street e Primavera Árabe são alguns casos. Mas serão eles suficientes para
pressionar por relações menos predatórias? Por outro lado há o regresso de
ideias preconceituosas de misoginia e xenofobia calcadas no fascismo e este
cresce aos poucos seja na internet ou nas ruas.
O capital especulatório, no qual dinheiro faz dinheiro,
devora os cidadãos de suas condições de sobrevivência e assim terminado o seu
“trabalho” move-se para outra terra e neste momento O Príncipe Eletrônico perde
um braço para adquirir outro. Estados disputam como irmãos a atenção do pai
capitalista e este fornica com os Estados conforme lhe for conveniente.
As atividades militares reforçam este domínio. Enviadas para
solo estrangeiro com a premissa de conduzir determinado país para a democracia
ou mesmo em uma cruzada por direitos humanos, porém são vistas em locais ricos
em recursos naturais e combustíveis. Os desprovidos de meios lucrativos ou em
posições estratégicas ficam à própria sorte.
Esta relação é vista em filmes como O Capital (2012) de Costa-Gravas e Wall Street (1987) de Oliver Stone. O liberalismo em sua pior face
simulando distribuir riquezas. Por outro lado países assumidamente socialistas
distribuíram sua pobreza aos cidadãos.
Interesses financeiros atravessam fronteiras, desrespeitam
direitos humanos e em muitos casos deixam o terreno infértil e propagam o
trabalho forçado. Isto é mantido pelo consumismo, vindo do narcisismo e do
individualismo. Assim como há pessoas em condições de escravidão há os escravos
das marcas.
Entretanto, apesar de protestos e ativistas, a grande parte
da população continua imersa nestas relações do capital especulatorio e de
consumo. As vozes adversas quando não são sufocadas passam por um processo de
marginalização ou mesmo ridicularização.
Países periféricos estão perdidos em doenças e veem as
crises dos europeus como rotina. Indústrias seguram o controle de patentes
impossibilitando acesso maior da população mundial à saúde. Por outro lado a
imagem de pobreza vende jornalismo e também obras de ficção.
Com tantas imagens sobrepostas é difícil distinguir o fato
do imaginário seja em telejornais ou em games. Intervalos comerciais ou
merchandisings inseridos no veículo ditam de forma velada ou escancarada os
hábitos e a importância do indivíduo.
As décadas passam e a riqueza permanece concentrada nos
mesmos sobrenomes salvo um jogador ou outro que cai ou entra para o círculo
fechado. A manutenção de poder é uma tradição familiar.
Eric Hobsbawn apontou em seus texto que vivemos na barbárie,
e é difícil discordar. Armas químicas e nucleares são utilizadas para manter a
ordem. Os telejornais não podem mostrar muito do que se passa nos campos de
batalha ou mesmo nos salões do poder. O jornalismo investigativo vem perdendo
força e investimentos e o jornalismo em si está cada vez mais semelhante à
publicidade.
O Príncipe Eletrônico é ainda mais violento que Borgia ou
Napoleão. O primeiro participava de batalhas junto aos seus comandados e foi de
uma época na qual nobres duelavam e tinham como incumbência defender seu povo,
enquanto o segundo cresceu na hierarquia militar e acampava com seus
comandados. O senhor da guerra e do capital atual não tem face, esta protegido
em bunkers, palácios e mansões.
O cinema com histórias de heróis, rostos dramáticos e corpos
de Adônis dão beleza à barbárie. Walter Benjamin definiu existir beleza no
bélico e um jogo de câmeras e trilha sonora expandiu isto com músculos e suor.
O erotismo justificando a doutrinação de povos.
Nesta mesa grande o Brasil tem expectativas de sentar e se
servir. O marketing privado e público apresentam o país como um paraíso
tropical e sexual capaz de hospedar Copa do Mundo e Jogos Olímpicos e com a
ânsia de um assento na Organização das Nações Unidas.
Porém o Guarani chora, não por Cecília, mas pela violenta
forca de Torquemada. A Inquisição anseia usurpar suas terras para criar gado.
Os bandeirantes voltaram, mas desta vez com chapéus, botas de crocodilo e taillers. O exterior parece mais
preocupado com as tribos do que a imprensa local.
A população carente segue vendo os filhos e netos da
Candelária sendo massacrados nas noites da periferia. No Plano Acelerado de
Crescimento (PAC) Direitos Humanos e Meio Ambiente não entram no menu, mesmo assim o Brasil quer comer no
self-service da ONU.
O capital vai sugar mais e mais. Não é possível determinar
qual será o fim da crise político econômica, mas ela ainda trará muitas perdas.
Enquanto isto famílias comem seu jantar com iPhones e iPads em mãos.